As pêras ficam maduras em Agosto . Eu comi-as verdes ou talvez bem passadas do ano anterior, porque comi-as em Abril e não em Agosto.
Hoje estamos em Abril. Faz examente um ano que eu estava a entrar no pomar sem saber para onde estava a caminhar. Entrei de olhos fechados a achar que estava a entrar numa mansão, mas afinal era um grande pomar e pêras foi o que eu consegui apalpar às cegas. Estava cheia de fome por isso comi algumas. Souberam-me às melhores pêras que eu já comi. Suculentas ao ponto de não me caber na boca o tanto sumo e de me subirem os diabetes. Quando tirei a venda dos olhos, de barriga semi-cheia, constatei que as pêras das árvores estavam verdes de tanta sede e podres de tão tarde me lembrar de as comer.
Hoje faz exactamente um ano e cheguei à conclusão que enquanto vou entrando nos sítios – mais ou menos cega – que vou enterrando sementes algures no carinho que tenho e sigo cheia de pêras maduras e suculentas, talvez um dia, no tempo certo de colher. Então, observa-se que tudo é e sempre foi uma questão de pêras e sementes.
Além de toda a colheita fora do tempo, as pêras deram me alguma indigestão e não houve Reni que me salvasse. Não sei se fiquei presa ou solta, mas que algo ficou indegesto, lá isso ficou e parece que não há volta que eu dê, nada me tira esta azia. Fui perguntando ao meu ego, pregando-lhe rasteiras e observando as reações da peste até que entendi que esta azia provinha da rejeição que eu tivera ao longo da vida. As pêras não se quiseram por maduras para mim então amuei, barafustei e nem quis esperar por Agosto tudo por causa de uma birra da criança mal resolvida que me habita.
No erro de Abril se viu em Agosto a lição.
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